sábado, 5 de novembro de 2011


Um meteorito embateu na minha lua deixando uma cratera em forma de saudade….do relevo …ficou uma espécie de braille da dor.
Nunca parece ser o momento certo para escrever, apesar de continuar a não parecer, hoje, apetece-me escrever além de pensar. Os dias sucedem-se numa catadupa de emoções que oscilam numa frequência arrítmica. Entre-um-tanto caem sobre a minha cabeça, pingos de agua ecoando “..nunca mais…nunca mais…nunca mais…nunca mais…nunca”.
Nunca mais um beijo, nunca mais um abraço, nunca mais uma conversa, nunca mais um sorriso, nunca mais uma gargalhada, nunca mais uma troca de olhares, nunca mais um revirar de olhos, nunca mais apareces à entrada da sala, nunca mais te vejo ao fundo do corredor, nunca mais me acordas com jeitinho, nunca mais o conforto da tua presença mesmo que no silêncio… e se tu gostavas de falar, falar, falar …e eu às vezes mais de silêncio, nunca mais saber que estás mesmo que eu não saiba onde, nunca mais um “tão boniiiiita” antes de eu sair de casa, nunca mais tás injojada ou airosinhanunca mais a-minha-mãe.


Incansável. Questionava-me e nunca te perguntei como conseguias ser todos os dias incansável comigo que já sou graúda,…agora fervilham perguntas das quais nunca mais posso escutar as tuas respostas. Acredito que no desenrolar da vida, se atenta, as venha a descobrir.

Sempre pronta para seguir comigo. “Eu ainda sou mais maluca do que tu…”,dizias-me… querias ver, querias ir… e eu cada vez queria mais levar-te… integrar-te nos meus dias, despertar-te para o tanto que ainda tinhas para experienciar e ver o brilho do olhar da minha bonequinha. O meu envelhecer alertava-me para a importância do rejuvenescimento do teu ser e do teu estar.

Agora vou sozinha na certeza de que quando chegar a casa também já não me vou sentar na cadeira da cozinha a roubar-te espaço e atenção às lides domésticas e dessa feita ser eu a falar, falar, falar… e “mãii estás a ouvir-me?”

Agora…fico calada a abafar a ansiedade mecanizada de tempos que passaram há pouco.

Já devias estar a dormitar (passa pouco da meia-noite) quando não resisti a acordar-te para te mostrar este desenho, quem sabe se dentro de ti não se daria o milagre que tanto esperei e pedi. Conforme observavas só dizias "hhhaaan, hhhaan", “Então não dizes nada?”… “Tá tão liiindo”. No dia seguinte voltei a mostrar-te e pedi (dentro de mim supliquei-te desesperadamente):
- “Não me deixes cair
- “Não me deixes cair tu” respondeste-me …

A 4 de Maio de 2011 ficou de mim uma espécie de ser rendilhado, da qual todos os dias se desprendem pedacitos e assim será até ao resto da minha vida. Percebo que é importante reinventar-me a cada dia, para não sucumbir ao desejo de voltar a ver-te. E é importante agradecer…a quem ajuda a colar outros pedacitos, retalhos novos aos quais também eu tenho de acostumar-me.

Como quem olha para o céu a tentar descobrir formas nas nuvens, assim ando eu dentro e fora da cratera a descobrir que me revelam os relevos que na minha vida deixaste.

Mãe-que-só-há-uma a minha saudade permanece

Incansável




como o teu Amor