domingo, 9 de outubro de 2016




















Mosteiro || fotos partilhadas


um post com cheiro a uvas americanas. Ás vezes tentava imaginar este cheiro, o sabor e a felicidade que me sugeriam. Lembro-me de como me deliciava com uns bagos dos escassos cachos que haviam. Devo ter despertado ali para a preciosidade de certos momentos. A sua repetição anual converteu-os em ritual, tendo despertado depois para a realidade de que os rituais podem não durar para sempre. Passados uns anos, num outro sitio, voltei a comer estas uvas, mais uma vez perante a escassa oferta dividi-o
as com a minha mãe nessa cumplicidade das memórias.
Sei que ultimamente me lembrei destes momentos, provavelmente enquanto conduzia lenta atrás de um e outro reboque das vindimas. As memórias também foram até às Fernão Pires compradas à senhora do mercado municipal.
Nesta manhã de domingo, comprei Fernão Pires no mercado quinzenal e nesta tarde, já observava curiosa as videiras, a maior parte vindimadas, quando fotografando uma nora em quintal alheio senti um cheiro intenso às horas passadas debaixo de uma latada de um tio vila verdense. Olhei para cima e descobri-a carregada de pequenos cachos de uva americana. A certeza veio de um bago roubado e a certeza absoluta de um cacho cheirado e de degustados mais uns preciosos bagos. Não vi mal em guardar aquele cacho para viajar no tempo depois deste passeio. E não vi mal em tirar outro para levar o meu pai nessa viagem. Enquanto os guardava na mochila, ligou-me ele a sugerir que ligasse a televisão para ver Vila Verde. Aaah pai se tu soubesses o que me contive para não te contar como é que eu já lá estava...
Houve também muitas amoras que desta vez foram a personagem secundária deste imaginário que me habita a casa das saudades.

Estou convencida que se contasse sobre estas saudades que tinha das uvas americanas, de como o cheiro e sabor me transportam no tempo, de como pareço ter 11 anos e observo o alpendre da casa do meu tio durante horas a fio decorando-lhe os detalhes, enquanto os adultos falavam de coisas que eu não percebia. Se eu contasse de como me sabia bem uns bagos daquelas uvas pequeninas à sombra aromatizada da latada, ninguém devia levar a mal os cachos que depois ainda trouxe das videiras aparentemente abandonadas.

Um trilho feito a passo dos sentidos despertos pelo bem que me faz este contacto com o verde, tão perto como um abraço esquecido dos xilemas e floemas e apenas sintonizado no pulsar desta força da natureza e desta força das memórias boas que se revivem e reescreverem desejando que nunca sejam escassas.


2 comentários:

Marta Moura disse...

Que fotos bonitas!

Ana Fernandes disse...

Obrigada Marta!